Continuação de:
Cálculos biliares bovinos no mundo: biologia, epidemiologia, cadeias de produção e desafios
5) Diagnóstico e inspeção
5.1. Na fazenda
O diagnóstico antemortem raramente é realizado, devido à ausência de sinais específicos. A imagem (ultrassonografia transabdominal) pode mostrar uma vesícula biliar distendida com ecos hiperecogênicos móveis e sombra acústica. A bioquímica (GGT, ALP, bilirrubina) sugere colestase, mas não é específica para cálculos.
5.2. No abatedouro
Predomina a descoberta incidental. Os serviços de inspeção abrem a vesícula biliar e examinam a bile; os cálculos aparecem como concreções arredondadas de tamanho variável (de alguns milímetros a vários centímetros). O corte revela camadas concêntricas. Os cálculos pigmentares são frequentemente mais duros e escuros. Registra-se a presença de colecistite, espessamento da parede ou sedimentos biliares (“sludge”).
5.3. Análises complementares
No laboratório, a espectroscopia no infravermelho, a difração de raios X e a análise química confirmam a composição (bilirrubinato de Ca, colesterol, proteínas). Culturas bacterianas e histologia da parede vesicular podem detalhar o contexto inflamatório.
6) Prevenção e manejo do rebanho
6.1. Princípios gerais
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Ração equilibrada: evitar excesso de concentrados, garantir fibras eficazes, minerais e vitaminas (especialmente a vitamina A, que sustenta a integridade epitelial).
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Água em quantidade e qualidade suficientes: para limitar episódios de concentração biliar.
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Controle de parasitoses (Fasciola, etc.) e infecções digestivas.
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Redução do estresse: calor, transporte, aglomerações, que podem afetar a motilidade biliar.
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Longevidade planejada das vacas leiteiras: o manejo das lactações e da condição corporal limita distúrbios metabólicos predisponentes.
6.2. Abordagens medicamentosas
Em bovinos, o uso profilático de ácidos biliares ou de ácido ursodesoxicólico não é padrão e pode levantar questões regulatórias dependendo do país (resíduos, períodos de carência). A indicação terapêutica continua rara e avaliada caso a caso.
7) Cadeias econômicas e comércio de cálculos
7.1. Valorização histórica e atual
Em algumas farmacopeias tradicionais da Ásia, os cálculos biliares bovinos — niú-huáng — são utilizados em pó ou em combinação com outras substâncias (por exemplo, em fórmulas tradicionais sedativas/antipiréticas). Essa demanda gerou historicamente um alto valor econômico para os cálculos naturais.
7.2. Mercados, autenticidade e substitutos
O interesse econômico deu origem a:
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Canais de fornecimento que passam por abatedouros, coletores e exportadores.
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Fraudes e falsificações: pedras tingidas, resinas coloridas, mistura com cálculos de outras espécies.
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Substitutos sintéticos e niú-huáng cultivado (síntese em laboratório) em algumas farmacopeias, destinados a reduzir a pressão sobre os fornecimentos naturais.
7.3. Ética e marco regulatório
Embora não seja um produto de espécie protegida, o comércio deve respeitar:
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As regulamentações veterinárias e sanitárias (rastreabilidade, higiene no abatedouro).
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As leis de exportação e importação, incluindo controles farmacêuticos e alfandegários.
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As normas de bem-estar animal: qualquer prática destinada a provocar ou extrair cálculos fora da cadeia de abate regulamentada é contrária à ética e à legislação de muitos países.
Os profissionais são incentivados a priorizar a transparência, a rastreabilidade e, quando a regulamentação recomendar, o uso de substitutos farmacêuticos validados.